Achei muito legal essa matéria da Revista Tênis sobre a transição dos tenistas juvenis para o circuito profissional escrita por Caio Cortela .Por isso resolvi divulgar aqui no blog ...Parabéns Caio por essa excelente matéria .
Segue abaixo a matéria completa divulgada na edição de número 109 da Revista Tênis |
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Do juvenil ao profissional
Estudos
mostram em que fase os tenistas juvenis podem (ou devem) ingressar no circuito
profissional para ter sucesso.
por Caio
Cortela
QUAL O PERCURSO ESPORTIVO realizado pelos tenistas de
sucesso? O que é mais importante: estar entre os melhores jogadores juvenis do
mundo ou antecipar a transição para o circuito profissional? Qual o momento
ideal para mudar de circuito? Diversos treinadores e atletas do mundo todo
certamente já se depararam com essas questões.
Responder a esses questionamentos pode contribuir para que todos os
envolvidos tomem decisões mais assertivas no momento da transição. No entanto,
vale lembrar que o treinamento e, particularmente, a preparação esportiva de
longo prazo, não são ciências exatas. Nesse sentido, a utilização de "receitas
prontas" que possam ser generalizadas a todos os atletas torna-se inviável. Por
outro lado, conhecer os caminhos percorridos por tenistas de destaque pode
facilitar a transição para o circuito profissional, aumentando as probabilidades
de sucesso na carreira.
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Pesquisas com tenistas top 100 da ATP apontam que esses atletas
iniciaram no tênis por volta dos seis anos de idade, atingindo o top 100 quinze
anos depois, aos 21 |
COPIAR OS MELHORES É UMA ALTERNATIVA?
Tomar como base apenas as trajetórias de tenistas como Roger
Federer, Rafael Nadal e Novak Djokovic, que se sobressaem como uns dos maiores
nomes da história do esporte pode levar os treinadores a cometer erros na
avaliação dos resultados apresentados pelos seus tenistas e, consequentemente,
influenciar na escolha dos torneios a serem disputados, interferindo
negativamente no desenvolvimento e na transição dos jogadores.
O TEMPO NECESSÁRIO
Pesquisas
que tiveram como foco o trajeto esportivo dos tenistas top 100 da ATP apontam
que esses atletas iniciaram no tênis por volta dos seis anos de idade, atingindo
o top 100 quinze anos depois, aos 21. A necessidade de se familiarizar com um
equipamento que não faz parte do cotidiano das crianças e as exigências técnicas
da modalidade ressaltam, de modo geral, a importância de se iniciar cedo a
prática do tênis para a obtenção de níveis elevados de performance.
AS TRAJETÓRIAS
Por volta dos
17,5 anos, esses tenistas atingem a melhor classificação no ranking do circuito
juvenil da Federação Internacional de Tênis (ITF), constatando-se que metade dos
atletas que participaram desse circuito adentraram no top 20 da ITF. Observa-se
ainda que, ao final da época juvenil, os tenistas top 100 já estavam inseridos
no circuito profissional, apresentando uma classificação média na 495ª posição.
Aos 18,8 anos, os atletas em questão rompem a barreira do top 400, atingindo
o top 200 e 100 respectivamente com 19,9 e 21,2 anos de idade. Geralmente, é
possível verificar que os tenistas top 100 adentraram essa barreira de forma
natural e contínua, não havendo grandes intervalos entre as idades de passagens
pelos diferentes marcos da carreira esportiva.
Por fim, verifica-se que os tenistas que, em algum momento da carreira
estiveram classificados entre os 10 melhores do ranking da ATP, apresentam
resultados significativamente superiores quando comparados aos demais atletas do
top 100. Nesse sentido, observa-se que os jogadores top 10 cruzam as barreiras
do top 400, 200 e 100 precocemente em relação aos seus pares.
CIRCUITO JUVENIL X CIRCUITO PROFISSIONAL
A classificação apresentada por tenistas ITF tem sido considerada uma
importante ferramenta para prognosticar os resultados futuros dos atletas.
Grande parte dos tenistas top 100 da ATP estiveram classificados no top 20 da
ITF. Mas, até que ponto priorizar os resultados nesse tipo de competição pode
realmente contribuir para o desenvolvimento integral do tenista?
Em sua apresentação na "Conferencia Mundial de Treinadores" da ITF, realizada
no Egito em 2011, o treinador Peter McCraw apresentou a progressão no ranking da
ATP dos tenistas que durante as temporadas de 1996 a 2005 estiveram
classificados no top 10 da ITF. De acordo com o autor, 58% dos tenistas que
estiveram nesse seleto grupo conseguiram progredir até chegar ao top 100 da ATP.
Ao comparar o percurso esportivo realizado pelos tenistas top 10 ITF que
conseguiram chegar ao top 100 ATP e os que não obtiveram o mesmo êxito nessa
transição, McCraw verificou que os atletas bem-sucedidos entraram mais cedo na
ITF, atingindo o ápice no número de competições nesse circuito por volta dos
15/16 anos. Por sua vez, os tenistas que falharam na chegada ao top 100 entraram
mais tarde e dedicaram mais tempo ao ITF, participando de um número menor de
competições no circuito profissional enquanto juvenis.
McCraw verificou ainda que o coeficiente de vitórias e derrotas dos tenistas
que posteriormente atingiram o top 100 foi mais alto, observando-se valores de
3,3:1 na ITF e de 1,6:1 no circuito ATP, contra respectivamente 2,4:1 na ITF e
0,9:1 ATP dos jogadores que não alcançaram esse patamar.
QUANDO ENTRAR E QUANDO SAIR DO CIRCUITO
ITF?
Tendo esses dados como parâmetro, esse coeficiente pode
ser utilizado como um bom indicador para selecionar o nível de competição em que
os tenistas deveriam participar. Se um jogador aos 16 anos tem um coeficiente de
vitórias e derrotas de 4:1 na ITF, por exemplo, é sinal de que esse âmbito de
competição pode não estar sendo suficiente para ele seguir se desenvolvendo.
Nesse caso, a intervenção do treinador, elevando no nível de competição,
colocaria o jogador em um nível adequado de disputa e afastaria a busca por
resultados em curto prazo. Resultados que, geralmente, não são reproduzidos no
momento em que realmente deveriam ocorrer, ou seja, no circuito profissional.
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Atletas que ingressam primeiro no top 400 tendem a chegar mais
cedo ao top 200 e 100 |
Na mesma direção do trabalho de McCraw, analisamos o percurso esportivo dos
tenistas top 100 da ATP, observando as idades em que eles passavam pelos
diferentes marcos da carreira esportiva. Constatamos que, mais importante do que
estar classificado entre no top 20 na ITF, é fundamental galgar posições no
ranking profissional ainda enquanto juvenil.
A correlação existente entre a melhor classificação no ranking da ATP ao
final da época juvenil e a melhor classificação no ranking da ATP da carreira
demonstrou ser um melhor indicador do verdadeiro potencial apresentado pelo
atleta do que a correlação existente as melhores classificações obtidas nos
rankings ITF e ATP.
Essa constatação, associada aos fatos de que os tenistas profissionais de
destaque atingiram o melhor ranking ITF por volta dos 17,5 anos de idade e de
que mais da metade dos atletas encerraram a temporada juvenil entre os 400
melhores do mundo no ranking ATP, reforça a necessidade de se iniciar a
transição ao profissionalismo no momento em que ainda poderiam estar se dedicando apenas à obtenção de resultados expressivos na ITF.
A REGRA DOS 10 ANOS E 10 MIL HORAS A formação de atletas
com expectativa de alto rendimento é um processo longo, complexo e que requer
grande conhecimento dos treinadores sobre as cargas de treinamento e os períodos
sensíveis para aprimorar as diferentes capacidades coordenativas e condicionais.
De modo geral, estima-se que são necessários, em média, 10 anos e
aproximadamente 10 mil horas de prática para alcançar níveis internacionais de
performance. A grosso modo, isso significa treinar e competir, em média, três
horas por dia, sete vezes por semana, ao longo de uma jornada de 10 anos.
Para além desses fatores, encontramos uma forte correlação entre as idades de
entrada no top 400 e as idades em que os tenistas adentraram o top 200 e 100.
Isso quer dizer que os atletas que ingressam primeiro no top 400 tendem a chegar
mais cedo ao top 200 e 100.
SEM QUEIMAR ETAPAS
Esses
resultados não significam que os treinadores deveriam queimar etapas e inserir
rapidamente os atletas no circuito profissional. Os casos concretos de tenistas
que adentraram o top 100 antes dos 18 anos são escassos (4%) e devem ser
analisados com cautela. No entanto, priorizar de forma crescente os torneios e
os resultados obtidos na ITF pode "mascarar" o verdadeiro potencial apresentado
pelo tenista e atrasar a transição ao profissionalismo.
Nesse sentido, a idade em que o tenista ingressa no top 400 e a melhor
classificação obtida por ele no circuito profissional ao final da época juvenil
poderiam ser utilizadas pelos treinadores como bons indicadores para predizer os
resultados futuros.
Fica evidente que a ambos os circuitos têm papel fundamental no
desenvolvimento do tenista. A escolha por um ou outro deverá levar em
consideração os resultados apresentados pelo jogador, as idades em que esses
resultados ocorreram, bem como características particulares dos atletas. Dessa
forma, os países que desejarem se destacar no circuito profissional deverão
propiciar um bom calendário de competições para que seus atletas possam se
desenvolver. |
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