sábado, 23 de fevereiro de 2013

Matéria da Revista Tênis sobre a transição do tenista juvenil para o profissional


Achei muito legal essa matéria da Revista Tênis sobre a transição dos tenistas juvenis para o circuito profissional escrita por Caio Cortela .Por isso resolvi divulgar aqui no blog ...Parabéns Caio por essa excelente matéria .
Segue abaixo a matéria completa divulgada na edição de número 109 da Revista Tênis
Do juvenil ao profissional
Estudos mostram em que fase os tenistas juvenis podem (ou devem) ingressar no circuito profissional para ter sucesso.

por Caio Cortela




QUAL O PERCURSO ESPORTIVO realizado pelos tenistas de sucesso? O que é mais importante: estar entre os melhores jogadores juvenis do mundo ou antecipar a transição para o circuito profissional? Qual o momento ideal para mudar de circuito? Diversos treinadores e atletas do mundo todo certamente já se depararam com essas questões.
Responder a esses questionamentos pode contribuir para que todos os envolvidos tomem decisões mais assertivas no momento da transição. No entanto, vale lembrar que o treinamento e, particularmente, a preparação esportiva de longo prazo, não são ciências exatas. Nesse sentido, a utilização de "receitas prontas" que possam ser generalizadas a todos os atletas torna-se inviável. Por outro lado, conhecer os caminhos percorridos por tenistas de destaque pode facilitar a transição para o circuito profissional, aumentando as probabilidades de sucesso na carreira.
Pesquisas com tenistas top 100 da ATP apontam que esses atletas iniciaram no tênis por volta dos seis anos de idade, atingindo o top 100 quinze anos depois, aos 21
COPIAR OS MELHORES É UMA ALTERNATIVA?
Tomar como base apenas as trajetórias de tenistas como Roger Federer, Rafael Nadal e Novak Djokovic, que se sobressaem como uns dos maiores nomes da história do esporte pode levar os treinadores a cometer erros na avaliação dos resultados apresentados pelos seus tenistas e, consequentemente, influenciar na escolha dos torneios a serem disputados, interferindo negativamente no desenvolvimento e na transição dos jogadores.
O TEMPO NECESSÁRIO
Pesquisas que tiveram como foco o trajeto esportivo dos tenistas top 100 da ATP apontam que esses atletas iniciaram no tênis por volta dos seis anos de idade, atingindo o top 100 quinze anos depois, aos 21. A necessidade de se familiarizar com um equipamento que não faz parte do cotidiano das crianças e as exigências técnicas da modalidade ressaltam, de modo geral, a importância de se iniciar cedo a prática do tênis para a obtenção de níveis elevados de performance.
AS TRAJETÓRIAS
Por volta dos 17,5 anos, esses tenistas atingem a melhor classificação no ranking do circuito juvenil da Federação Internacional de Tênis (ITF), constatando-se que metade dos atletas que participaram desse circuito adentraram no top 20 da ITF. Observa-se ainda que, ao final da época juvenil, os tenistas top 100 já estavam inseridos no circuito profissional, apresentando uma classificação média na 495ª posição.
Aos 18,8 anos, os atletas em questão rompem a barreira do top 400, atingindo o top 200 e 100 respectivamente com 19,9 e 21,2 anos de idade. Geralmente, é possível verificar que os tenistas top 100 adentraram essa barreira de forma natural e contínua, não havendo grandes intervalos entre as idades de passagens pelos diferentes marcos da carreira esportiva.
Por fim, verifica-se que os tenistas que, em algum momento da carreira estiveram classificados entre os 10 melhores do ranking da ATP, apresentam resultados significativamente superiores quando comparados aos demais atletas do top 100. Nesse sentido, observa-se que os jogadores top 10 cruzam as barreiras do top 400, 200 e 100 precocemente em relação aos seus pares.
CIRCUITO JUVENIL X CIRCUITO PROFISSIONAL
A classificação apresentada por tenistas ITF tem sido considerada uma importante ferramenta para prognosticar os resultados futuros dos atletas. Grande parte dos tenistas top 100 da ATP estiveram classificados no top 20 da ITF. Mas, até que ponto priorizar os resultados nesse tipo de competição pode realmente contribuir para o desenvolvimento integral do tenista?
Em sua apresentação na "Conferencia Mundial de Treinadores" da ITF, realizada no Egito em 2011, o treinador Peter McCraw apresentou a progressão no ranking da ATP dos tenistas que durante as temporadas de 1996 a 2005 estiveram classificados no top 10 da ITF. De acordo com o autor, 58% dos tenistas que estiveram nesse seleto grupo conseguiram progredir até chegar ao top 100 da ATP.
Ao comparar o percurso esportivo realizado pelos tenistas top 10 ITF que conseguiram chegar ao top 100 ATP e os que não obtiveram o mesmo êxito nessa transição, McCraw verificou que os atletas bem-sucedidos entraram mais cedo na ITF, atingindo o ápice no número de competições nesse circuito por volta dos 15/16 anos. Por sua vez, os tenistas que falharam na chegada ao top 100 entraram mais tarde e dedicaram mais tempo ao ITF, participando de um número menor de competições no circuito profissional enquanto juvenis.
McCraw verificou ainda que o coeficiente de vitórias e derrotas dos tenistas que posteriormente atingiram o top 100 foi mais alto, observando-se valores de 3,3:1 na ITF e de 1,6:1 no circuito ATP, contra respectivamente 2,4:1 na ITF e 0,9:1 ATP dos jogadores que não alcançaram esse patamar.




QUANDO ENTRAR E QUANDO SAIR DO CIRCUITO ITF?
Tendo esses dados como parâmetro, esse coeficiente pode ser utilizado como um bom indicador para selecionar o nível de competição em que os tenistas deveriam participar. Se um jogador aos 16 anos tem um coeficiente de vitórias e derrotas de 4:1 na ITF, por exemplo, é sinal de que esse âmbito de competição pode não estar sendo suficiente para ele seguir se desenvolvendo. Nesse caso, a intervenção do treinador, elevando no nível de competição, colocaria o jogador em um nível adequado de disputa e afastaria a busca por resultados em curto prazo. Resultados que, geralmente, não são reproduzidos no momento em que realmente deveriam ocorrer, ou seja, no circuito profissional.

Atletas que ingressam primeiro no top 400 tendem a chegar mais cedo ao top 200 e 100

Na mesma direção do trabalho de McCraw, analisamos o percurso esportivo dos tenistas top 100 da ATP, observando as idades em que eles passavam pelos diferentes marcos da carreira esportiva. Constatamos que, mais importante do que estar classificado entre no top 20 na ITF, é fundamental galgar posições no ranking profissional ainda enquanto juvenil.

A correlação existente entre a melhor classificação no ranking da ATP ao final da época juvenil e a melhor classificação no ranking da ATP da carreira demonstrou ser um melhor indicador do verdadeiro potencial apresentado pelo atleta do que a correlação existente as melhores classificações obtidas nos rankings ITF e ATP.

Essa constatação, associada aos fatos de que os tenistas profissionais de destaque atingiram o melhor ranking ITF por volta dos 17,5 anos de idade e de que mais da metade dos atletas encerraram a temporada juvenil entre os 400 melhores do mundo no ranking ATP, reforça a necessidade de se iniciar a transição ao profissionalismo no momento em que ainda poderiam estar se dedicando apenas à obtenção de resultados expressivos na ITF.
 
A REGRA DOS 10 ANOS E 10 MIL HORAS A formação de atletas com expectativa de alto rendimento é um processo longo, complexo e que requer grande conhecimento dos treinadores sobre as cargas de treinamento e os períodos sensíveis para aprimorar as diferentes capacidades coordenativas e condicionais. De modo geral, estima-se que são necessários, em média, 10 anos e aproximadamente 10 mil horas de prática para alcançar níveis internacionais de performance. A grosso modo, isso significa treinar e competir, em média, três horas por dia, sete vezes por semana, ao longo de uma jornada de 10 anos.

Para além desses fatores, encontramos uma forte correlação entre as idades de entrada no top 400 e as idades em que os tenistas adentraram o top 200 e 100. Isso quer dizer que os atletas que ingressam primeiro no top 400 tendem a chegar mais cedo ao top 200 e 100.


SEM QUEIMAR ETAPAS
Esses resultados não significam que os treinadores deveriam queimar etapas e inserir rapidamente os atletas no circuito profissional. Os casos concretos de tenistas que adentraram o top 100 antes dos 18 anos são escassos (4%) e devem ser analisados com cautela. No entanto, priorizar de forma crescente os torneios e os resultados obtidos na ITF pode "mascarar" o verdadeiro potencial apresentado pelo tenista e atrasar a transição ao profissionalismo.

Nesse sentido, a idade em que o tenista ingressa no top 400 e a melhor classificação obtida por ele no circuito profissional ao final da época juvenil poderiam ser utilizadas pelos treinadores como bons indicadores para predizer os resultados futuros.

Fica evidente que a ambos os circuitos têm papel fundamental no desenvolvimento do tenista. A escolha por um ou outro deverá levar em consideração os resultados apresentados pelo jogador, as idades em que esses resultados ocorreram, bem como características particulares dos atletas. Dessa forma, os países que desejarem se destacar no circuito profissional deverão propiciar um bom calendário de competições para que seus atletas possam se desenvolver.

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